O Morro do Castelo – Parte Final

Foto tirada por Mayara Saldanha
KESSEL, Carlos. Tesouros do Morro do Castelo: Mistério e história nos subterrâneos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

 

E hoje chegamos a parte final do Morro do Castelo, falando sobre os tesouros dos jesuítas…

Esta última parte é também uma dica de leitura do livro de Carlos Kessel, “Tesouros do Morro do Castelo: mistério e história nos subterrâneos do Rio de Janeiro”, onde ele nos conta ter encontrado no IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) documentos do fim do século XIX referentes a um pedido de Nominato José de Assis, um advogado mineiro, que solicitava ao marquês de Olinda que o ajudasse, intervindo junto ao Governo Imperial para que lhe fosse dada uma concessão para escavar o Morro do Castelo em busca dos tesouros dos jesuítas.

Através desse pedido inusitado temos a dimensão do alcance da crença, que era difundida na época, tanto entre a população da elite quanto das camadas mais baixas da sociedade, de que os jesuítas haviam escondido um tesouro nas galerias e câmaras subterrâneas do Morro, quando de sua expulsão do Brasil em 1759. Esta era ainda reforçada pelo fato da sede administrativa, a igreja e o colégio dos padres serem no Castelo, Kessel diz que Os tesouros do morro do Castelo passaram da categoria de símbolos da opulência jesuítica a objetos de cobiça da Coroa portuguesa e a mito dourado que confundia com as origens do próprio Rio de Janeiro…”.

O mistério tomou força com o início das escavações do morro em 1905, organizadas pelo Prefeito Pereira Passos. Na abertura da Avenida Central (atual Rio Branco) foi encontrada uma das galerias subterrâneas o que reforçou mais os boatos sobre o tal tesouro, dando origem inclusive a uma publicação seriada de crônicas no jornal “Correio da Manhã” que mistura história, fantasia e romance. Escritas por Lima Barreto elas se transformam no livro “O subterrâneo do Morro do Castelo”, em 1997.

A especulação do tesouro por parte de alguns membros do governo gerou inclusive uma crítica de Monteiro Lobato …o verdadeiro tesouro oculto em suas entranhas não é a imagem de ouro maciço de Santo Inácio, e sim o panamá do arrasamento. Os homens de hoje são negocistas sem alma. Querem dinheiro. Para obtê-lo venderão tudo, venderiam até a alma se a tivessem. Como pode ele, pois, resistir a maré, se suas credenciais – velhice, beleza, pitoresco, historicidade – não são valores de cotação na bolsa?”.

Com a demolição do Castelo pouca coisa foi achada nos seus subterrâneos, mas com certeza não o suntuoso tesouro previsto nos boatos, mas o autor não esgota a possibilidade de algo ter existido já que a exploração não foi feita de modo a se buscar preservar o que havia abaixo. Kessel resume bem a destruição do morro quando diz que:

Para nós é relevante notar que os poderes públicos não haviam tomado qualquer iniciativa para preservar a memória do Castelo, tendo relegado ao abandono não só as construções, mas também o que ainda se encontrava sob a terra. Compreende-se: o pensar e o fazer governamental dos anos que se seguiram a Pereira Passos ainda estavam definidos pela mentalidade higienista, e o morro de há muito fora classificado como um dos obstáculos a vencer na busca do saneamento e do embelezamento do Rio de Janeiro”.

E assim chegamos ao fim dessa série de textos sobre o Morro do Castelo. Espero que todos tenham gostado e aprendido um pouco sobre esse importante espaço do Rio de Janeiro, que mesmo não mais existindo fisicamente resiste ainda na memória da cidade. Até a próxima!!!

Referências:

AZEVEDO, Cláudia Cristina Andrade de; SILVA, Maria Fátima de Souza. Morro do Castelo “Um Lugar de Memória” na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: ojs.fe.unicamp.br/ged/FEH/article/download/5449/4357

BARRETO, Lima. O subterrâneo do Morro do Castelo. Correio da Manhã – edições de 28-29/4/1905, 2-10/5/1905, 12/5/1905, 14-15/5/1905, 19-21/5/1905, 23-28/5/1905, 30/5/1905, 1/6/1905, 3/6/1905. Disponível em: https://www.algosobre.com.br/downloads/livros-obras-literarias-pdf/573-lima-barreto-o-subterraneo-do-morro-castelo/file.html

EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. Edições do Senado Federal, Vol. 1. Brasília, 2003. 

GÉRSON, Brasil. História das Ruas do Rio.

KESSEL, Carlos. A Vitrine e o Espelho: o Rio de Janeiro de Carlos Sampaio. Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2001.

KESSEL, Carlos. Tesouros do Morro do Castelo: Mistério e história nos subterrâneos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

MENEZ, Alexsandro R. Civilização versus barbárie: a destruição do Morro do Castelo no Rio de Janeiro (1905-1922). Revista Historiador, nº 06, Ano 06, Janeiro de 2014. Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriador

PAIXÃO. Cláudia Míriam Quelhas. O Rio de Janeiro e o Morro do Castelo: populares, estratégias de vida e hierarquias sociais (1904-1922). Dissertação de Mestrado em História, Niterói: UFF, 2008.

PAULA, Eurípedes Simões de. A Cidade e a História. Anais do VII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, São Paulo: 1974.


 

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